domingo, 17 de novembro de 2013

Praia do Infante - início dos trabalhos

À medida que a desova de tartarugas na Ilha do Príncipe se inicia os preparativos começam. Este ano está planeado que o estudo e protecção das tartarugas marinhas inclua a praia principal de desova situada no sul da ilha, a Infante. A praia apresenta das maiores densidades de desovas da ilha, provavelmente consequência do seu isolamento (Ferreira et al. 2012), no entanto ocasionalmente é visitada por pescadores, colectores de coco e caçadores de tartaruga. Desta forma iniciámos a construção de um pequeno abrigo para apoio às actividades dos técnicos e voluntários que aí trabalharão, sendo esperado que a mortalidade nessa importante praia seja eliminada.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Semana da Ciência

No início desta nova temporada de desova tivémos o prazer de participar na Semana da Ciência a decorrer na Ilha do Príncipe. Foi nos dado a oportunidade de fazer uma apresentação sobre tartarugas, medidas de conservação, investigação e apresentar resultados já disponíveis sobre as populações de tartarugas marinhas da ilha e o uso das praias pelas mesmas. A entrada era livre e a participação das pessoas foi muito positiva. A palestra foi apresentada pelo Biólogo Marinho Rogério Ferreira, colaborador do Parque Natural do Príncipe e CTM, mas foi enriquecida com a presença de outros membros da CTM, do Governo, de ONG’s, cooperantes, investigadores, artistas, pescadores e outros cidadãos interessados no tema.

Durante o espaço reservado para diálogo apareceram perguntas bem pertinentes e inteligentes. Uma delas abordou a vinda de pessoas de fora, que não conhecem ainda a realidade local, proibir a captura de tartarugas quando isso é uma actividade que sempre aconteceu, logo tradicional, e quando nos seus países de origem existem espécies ameaçadas que continuam a ser capturadas. Inclusive foi referido que até à independência do país existia regulamentação que permitia a sua captura desde que sustentável, ou seja, algo semelhante a licenças, tamanhos mínimos e quotas que faziam esta uma actividade sustentável, como ainda acontece em alguns países do mundo.

A resposta abordou o tema que o trabalho de investigação e conservação é independente da proibição ou não da captura de tartarugas. Quem decide sobre a proibição é o Governo e nós, como técnicos especializados, apenas recolhemos e analisamos dados científicos sobre as populações de tartarugas a fim que as decisões de gestão, como essa, possam ser tomadas com base no melhor conhecimento disponível. No entanto a iniciativa do Governo regional de proibir a captura é visionária e de louvar, principalmente quando o Príncipe é agora Reserva da Biosfera. Embora não existam dados que indiquem se a população de tartarugas do príncipe está a aumentar, estabilizada ou a decrescer, na Região de Gestão Oeste Africana sabe-se que o declínio é acentuado. Desta forma como medida precaucional, e espelhada na Lei das Pescas de São Tomé e Príncipe, a Região Autónoma do Príncipe chegou-se à frente e legislou, restando esperar que o Governo tome medidas, seja seguindo o exemplo do Príncipe ou regulando a captura. Isto para que as novas gerações possam também conhecer este animal carismático e fonte de riqueza num futuro sustentável.


Dentro de outros temas abordados ficou claro a necessidade de ter informação científica e envolver a comunidade para chegar às soluções que melhor se adaptam localmente e que só assim poderão funcionar. Isto porque é norma serem implementadas medidas vindas directamente de outros países que acabam por não funcionar devido às realidades físicas, biológicas e sociais serem diferentes. Como é o caso do transplante dos ninhos para cercados de incubação, entre outros alterando as proporções sexuais e pondo em perigo a sobrevivência futura das populações, quando actualmente existem inúmeros métodos de proteger os ninhos no local que a tartaruga escolheu. 

Relevante foi o assunto da necessidade de se fiscalizar as Águas Territoriais e a Zona Económica Exclusiva para poder combater o principal responsável pela extirpação das tartarugas marinhas, a pesca industrial (e.g. arrasto, redes de deriva) que ilegalmente opera um pouco por toda a Africa e pouco a pouco vão roubando e destruindo o património natural dos países carentes de meios de fiscalização das suas águas. O tema relevante da poluição luminosa também surgiu, o desenvolvimento costeiro é o maior responsável para a sobrevivência das tartarugas marinhas na região, a seguir à captura acidental em artes de pesca, e espera-se que os promotores locais olhem para a necessidade de controlar essa poluição. À semelhança com o efectuado pelo Bom-bom Island Resort que reduziu fortemente o impacto negativo da iluminação através de pequenas modificações (ver artigo)